O trabalho docente na Educação Básica
Apresentação
A educação historicamente ao mesmo tempo serviu para a
transmissão de uma ideologia ou para a ação transformadora da sociedade. Ela
está no centro das disputas pelo poder e o docente além de ser o instrumento
direto da transmissão da educação, também está no centro desses conflitos. A
maneira de seu trabalho e as condições deste resultarão no tipo de educação que
os alunos receberão, seja voltada para formar indivíduos capazes de se
reconhecerem enquanto sujeitos ou para a reprodução do saber e
formação/capacitação de mão – de - obra para o capital. Por isso, as condições
de trabalho têm grande importância no efetivo trabalho do docente. Nessa
circunstância, o docente necessita compreender a organização da sociedade
capitalista e suas contradições, no intuito de realizar um trabalho junto com o
aluno para emancipação de sua condição de explorado. O conhecimento nessa
sociedade é poder, e a ideologia impingida por essa sociedade, refletirá na
reprodução das idéias e de estrutura social da classe dominante. Segundo Moreira
e Silva (2005) a noção de ideologia está vinculada com o poder e interesse, por
isso as políticas educacionais destinadas para os professores acabam afetando
não apenas estes, mas também aos alunos e a sociedade. Dessa forma, o estudo
sobre as condições de trabalho do docente da educação básica torna-se importante
para se entender como os governos atuam na disputa por uma ideologia. Para
Hofling (2001), ora o Estado atua em favor do capital, ora da sociedade,
mediando essa relação no sentido de manter a dominação. Apresentamos a seguir
uma análise da LDB, do PNE e PDE no que se referem ao docente da educação. Ainda
que seja uma análise preliminar, permitirá conhecermos os mecanismos utilizados
pelas políticas educacionais brasileira para regular o trabalho docente da
educação básica.
LDB 9.394/96 e o trabalho docente
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB/96
discutida e aprovada após a promulgação da Constituição de 1988, advinda de um
longo processo de disputas políticas na Câmara de Deputados e no Senado. Apesar
de dedicar o capítulo V, mais especificamente os artigos 61 ao 67, ao
profissional da educação, sua ênfase é dada à formação docente. Descreve sobre
questões como a valorização profissional, plano de carreira (art. 67), o piso
salarial, sem fixar nenhuma base, ou caminhos concretos para efetivação de tal
proposição, deixando a cargo dos governos estaduais e municipais (art. 67,
Inciso III). Em relação ao tempo dedicado para estudos, planejamento e avaliação
dos professores, posiciona-se que este esteja incluído na carga horária (art.
67, Inciso V) do/a professor/a. Contudo, observa-se que essas atividades são
realizadas fora dessa carga horária, pois 4 horas diárias são de efetivo
exercício em sala de aula, 20 horas no total, e 5 horas de planejamento, divida
muitas vezes, entre planejamento, reuniões, estudos e todas as atividades
demandadas pelo trabalho pedagógico. Além disso, a LDB contempla de maneira
subjetiva a condição adequada de trabalho (art. 67, inciso VI), mas não
explicita quais são as condições mínimas para que o docente realize
satisfatoriamente a sua atividade educacional. Dessa forma, não vislumbramos na
legislação caminhos como efetivar as condições objetivas e subjetivas do
trabalho docente, deixando-as em segundo plano.
O PNE 10.172/2001 e sua relação com a docência
O Plano Nacional da Educação é o resultado da pressão da
sociedade, que por iniciativa pública de sindicatos, professores, estudantes,
pais, comunidade e com o apoio de alguns parlamentares elaboraram o seu plano de
educação, conhecido com PNE da Sociedade Brasileira, e o enviaram para o
Congresso. Essa atitude, encabeçada pelo Deputado Ivan Valente e apoiada pela
oposição, fez com que o governo retirasse da gaveta o seu projeto que logo foi
anexado ao popular. O PNE do governo era a expressão da política capitalista e
da classe dominante, enquanto que o da Sociedade Brasileira buscava fortalecer a
escola pública e a democratização da gestão escolar entre outros. O resultado
desse embate é o PNE de 2001, que foge do que foi proposto pela sociedade,
tornando-o como diz Valente e Romano (2002), em uma “carta de intenções”. Em
suas análises, percebem o “detalhismo” quanto a estipular tempos, que em suma
levam à centralização da política educacional e, ao “generalismo ambíguo” quando
das situações como a de fixar um piso salarial nacional. E é neste generalismo
que nos deteremos, principalmente, no que se refere a questões destinadas à
formação de professores e a valorização do magistério.
O PNE não expressou a preocupação com o profissional de
educação como um todo, mas evidencia e tende a discutir a formação desse
profissional. A formação profissional inicial e continuada impõe limites à
atuação dos profissionais leigos e de curso médio, estipulando prazos para que
estes se ajustem ao novo desígnio do curso superior. Ao tratar de pendências
como as condições de trabalho, piso salarial e carreira, não firma prazos, não
estipula valores/percentuais apenas faz menção sobre o assunto, deixando em
aberto e transferindo suas obrigações. Parte de seu discurso é bem elaborado,
diria empolgante mesmo, parece com frases de efeito de um grande “galanteador”
que busca seduzir as suas “vítimas”. Reproduzirei aqui uma parte dessa
“conquista”:
“A simultaneidade dessas três condições, mais do
que uma conclusão lógica, é uma lição extraída da prática. Esforços dos sistemas
de ensino e, especificamente, das instituições formadoras em qualificar e formar
professores têm se tornado pouco eficazes para produzir a melhoria da qualidade
do ensino por meio de formação inicial porque muitos professores se deparam com
uma realidade muitas vezes desanimadora. Ano após ano, grande número de
professores abandona o magistério devido aos baixos salários e às condições de
trabalho nas escolas. Formar mais e melhor os profissionais do magistério é
apenas uma parte da tarefa. É preciso criar condições que mantenham o entusiasmo
inicial, a dedicação e a confiança nos resultados do trabalho pedagógico. É
preciso que os professores possam vislumbrar perspectivas de crescimento
profissional e de continuidade de seu processo de formação. Se, de um lado, há
que se repensar a própria formação, em vista dos desafios presentes e das novas
exigências no campo da educação, que exige profissionais cada vez mais
qualificados e permanentemente atualizados, desde a educação infantil até a
educação superior (e isso não é uma questão meramente técnica de oferta de maior
número de cursos de formação inicial e de cursos de qualificação em serviço) por
outro lado é fundamental manter na rede de ensino e com perspectivas de
aperfeiçoamento constante os bons profissionais do magistério. Salário digno e
carreira de magistério entram, aqui, como componentes essenciais. Avaliação de
desempenho também tem importância, nesse contexto.”(PNE, 2001, IV – MAGISTÉRIO
DA EDUCAÇÃO BÁSICA).
Tal discurso cai no vazio quando não encontramos meios para
efetivar tal prática. Analisada na sua totalidade e de maneira minuciosa é
possível ver grandes brechas e certo descaso para com os profissionais da
educação, pois quando não se omite se faz de cega quanto às necessidades para
que esses profissionais possam realizar suas atividades pedagógicas. Além disso,
após a publicação do PNE, em seguida, o então presidente da República Fernando
Henrique Cardoso, vetou nove metas. Todas relacionadas com o financiamento para
melhoria do ensino. Entre elas está o que amplia o financiamento público à
pesquisa científica e tecnológica, a qual implanta em um ano os planos gerais de
carreira para os profissionais e o que garante recursos do Tesouro Nacional para
o pagamento de aposentados e pensionistas do ensino público na esfera federal.
PDE “nova” política, velho discurso”
O Plano de Desenvolvimento Educacional - PDE proposta do
segundo mandato do governo Lula se justifica como uma política para a melhoria
da educação brasileira. Entre suas prioridades:
“Uma educação básica de qualidade. Essa é a
prioridade do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Investir na educação
básica significa investir na educação profissional e na educação superior,
porque elas estão ligadas, direta ou indiretamente. Significa também envolver
todos, pais, alunos, professores e gestores, em iniciativas que busquem o
sucesso e a permanência do aluno na escola” (PDE, 2007).
Conforme a descrição, o PDE deveria está a favor da educação
básica e de seus profissionais. Contudo, ao analisar o documento e suas
proposições, verificamos que tal documento não deixa claro os meios de efetivar
a tal qualidade da educação, pois mais uma vez não deixa evidente quais recursos
serão utilizados. No que se refere ao trabalho docente, não trata de forma
minuciosa essas questões. Seus planos para estes estão mais voltados para a
formação e capacitação profissional. São eles: o incentivo à pesquisa, piso do
magistério (de 850,00 reais sendo acrescentados de forma gradual ao salário do
educador), formação (para formar educadores no interior do país, através de
educação à distância), educação superior (duplicação de vagas em universidades
federais), FIES acesso facilitado (aumento de percentuais e prazos de pagamento
para os estudantes de mestrado, doutorado e licenciaturas como pedagogia e
normal superior), licenciatura de qualidade (apoio à formação de professores da
educação básica), CAPES (colaboração para a formação de professores da educação
básica) e a iniciação à docência (corresponde a bolsas que incentivam a formação
de professores).
Nota-se nessa breve análise das leis e do Plano que as
condições objetivas e subjetivas do/a professor/a que está lá no “chão” da
escola não é algo pensado por essas normatizações. Várias são as competências
exigidas, uma prova disso é a preocupação que se tem com a formação desse
docente e, o investimento nos últimos anos nos cursos de formação continuada
para que esse profissional possa acompanhar as novas exigências do mundo atual.
Com isso uma pergunta se faz freqüente: diante de tanta responsabilidade imposta
ao docente e que a cada dia só cresce, como pode este realizar todas essas
responsabilidades quando das condições objetivas não favorecem? Como atuar nessa
nova sociedade, para esse novo perfil de aluno, de escola? E mesmo, como ser
esse novo perfil de professor?
As respostas para essas questões não são tão simples. É preciso
voltar um pouco e analisar como a educação chegou ao contexto atual para que
então possamos vislumbrar alguma saída para esse labirinto que tem se tornado o
trabalho docente.
Na década de 1990, as reformas educacionais na America Latina,
focalizaram a educação básica, mas, os compromissos firmados em Jomtien não
abrangiam um atendimento amplo como estava previsto na legislação brasileira.
Essas reformas reforçavam a educação formal, geral e a escolarização, sem
observar os novos modelos de organização e gestão do trabalho, que requer uma
formação mais sólida e geral deste trabalhador, desenvolvendo, também, suas
competências e habilidades que fossem próprias a essa dinâmica atual dos
processos produtivos. Também não contemplavam a questão da desigualdade social,
mas, esperava que essa educação viesse a contribuir para promover a autonomia
individual e, conseqüentemente, reduzir essa desigualdade. A educação tem
servido também para “reparar” brechas sociais, através de programas como a
“bolsa escola”. Isso deu para a educação duas direções: uma voltada para a
formação do trabalhador e a outra para a gestão ou disciplina da pobreza,
marcando as reformas pela padronização e massificação de alguns processos, que
visam diminuir custos e tornar possível o controle das políticas que são
implementadas.
Com a expansão da educação básica, a partir das reformas e das
políticas de financiamento como o FUNDEF, e atualmente o FUNDEB, resultará na
sobrecarga dos professores, pesando-lhes nos ombros o sucesso ou fracasso da
reforma, e ainda mais “[...] essas reformas acabarão por determinar uma
reestruturação do trabalho docente, resultante da combinação de diferentes
fatores que se farão presente na gestão e organização do trabalho a partir de
então” (OLIVEIRA, 2003, p.24). A escola se instituiu como um espaço importante
de socialização e com isso de regulação social, o que a colocou em conflito com
a sua identidade (espaço de políticas públicas) e condição geral de ampliação da
produção, cumprindo de certa forma um papel de agência estatal.
A escola, contudo, não se curvou ante aos mandos e desmandos do
Estado e do capital. O seu espaço foi e é tomado de tensão e disputa de seu
conteúdo e objetivo. Para o capitalismo, a escola deve formar trabalhadores que
estejam capacitados para cumprir seu papel no mercado de trabalho, mesmo que
este mercado não exista muitas vezes de fato. Ao Estado, coube regular a escola
por meio de políticas educacionais para atender a essa exigência do capital. Os
movimentos dos trabalhadores da educação tentam inverter essa lógica mercantil
da escola.
Segundo Popkewitz citado por Dalila (2003) “as reformas de
conhecimento na escola estruturam e classificam o mundo e a natureza do
trabalho, o qual, por sua vez, tem a capacidade de organizar e formar a
identidade individual” (Popkewitz Apud Oliveira, 2003, p. 19). A escola, para
esse autor, ainda exerce uma importância na formação dos indivíduos. Dessa
forma, o capital, bem como o Estado, conduzem uma política na tentativa de
conter a críticae os conflitos internos na escola. Nesse jogo imperativo do
capital e Estado, o professor é visto como um transmissor direto da educação e
de seus processos, e, dessa forma, há uma necessidade de controlar seu trabalho.
Tal estratégia política influencia diretamente na autonomia do trabalho
pedagógico do docente e, diminui as possibilidades de um trabalho crítico. Para
Freire (1996), conhecimento é poder e cabe ao professor resistir ao poder
dominante atuando de maneira critica.
A pesquisa de campo: as condições de trabalho docente
da educação básica
Em uma pesquisa de campo, numa escola pública municipal,
realizada entre os anos de 2006 e 2007, proposta pela Prof.ª Msc. Emília Peixoto
Vieira, que ministrava a disciplina Política Educacional e Estrutura do Ensino
II, da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC analisamos a infra-estrutura
da escola pública em questão e relacionamos com os estudos realizados sobre as
políticas educacionais. Dessa primeira interlocução com a escola, resultou o
segundo momento de comparar com a realidade em que alguns professores
enfrentavam na escola para realizar seus trabalhos.
A infra-estrutura educacional é um dos componentes fundamental
no resultado da qualidade da educação como um todo. E quando essa questão básica
não é preenchida, ou mesmo deixada de lado, além de acarretar aos profissionais
da educação certo desconforto para realização do seu trabalho, os mantém de
“mãos atadas” para o efetivo exercício do ensino.
“Existem duas razões principais para se estudar infra-estrutura
das escolas. A primeira trata das condições físicas de trabalho, no que tange à
atividade-fim – a educação propriamente dita – diz respeito aos meios
disponíveis para um trabalho mais confortável, menos desgastante, mais prazeroso
e por isso mesmo mais produtivo, além de mais saudável para o trabalhador. A
segunda razão é a de que estamos falando de educação, um trabalho de importância
social inegável e colocado no centro das estratégias de desenvolvimento,
particularmente para o Brasil, afinal melhor infra-estrutura está relacionada
com melhor qualidade de ensino” (ODELIUS E BATISTA, 1999, p.161).
Para esses autores a infra-estrutura escolar tem grande
importância e tal constatação se fez por conta das observações e visitas
realizadas nas escolas. Concluem que ainda há uma deficiência em relação a esse
aspecto na educação brasileira. Faltam materiais básicos e de apoio ao ensino,
condições de trabalho e ambientais precárias (como salas e banheiro para
professores) e também a falta de recursos humanos. Esses são os tipos de
dificuldades que muitos docentes têm enfrentado, principalmente, quanto ao
quadro de funcionários. A falta de uns implica no trabalho dobrado de outros,
desgastando profissionais que poderiam melhor desempenhar o seu papel se não
fosse a necessidade de suprir a falta de profissionais. Não é a toa que
encontramos professores, coordenadores e diretores exaustos, estressados, pois
estão sobrecarregados, esgotados.
Dias (2004) afirma que: “a fim de poder funcionar, o sistema
escolar precisa da colaboração de pessoas com diferentes graus e tipos de
qualificação” (p.131). Essa falta de profissionais qualificados para atuarem nas
escolas tem conseqüência no próprio ensino. A escola não funciona como deveria e
as crianças são as que mais perdem. Perdem a possibilidade de desenvolver suas
capacidades cognitivas, quando não se encontra um ambiente com uma estrutura
sólida e adequada para usufruir a competência docente e perdem por não terem
todas as suas necessidades atendidas.
Tais episódios nos apontam alguns questionamentos: Qual a razão
de não se enviar/contratar novos funcionários? De quem será a culpa, a
responsabilidade? Do governo que não envia verbas para mais contratações, dos
estados e municípios que não promovem concursos? Será que as políticas públicas
destinadas à educação estão sendo insuficientes? Perguntas essas que não são tão
facilmente respondidas. Sabemos que não há um culpado, pois há todo um quadro de
órgãos responsáveis pela a educação escolar brasileira e conforme nos elucida
Faustine (2004):
“(...) é fácil imaginar a complexidade de
problemas relacionados com o dia-a-dia da escola (...). Por isso, é necessário
um grande entrosamento entre os diferentes setores e seus níveis
administrativos: Secretarias e Conselhos, nos níveis municipais e estaduais, e
estes como órgãos de nível federal” (2004, p.150).
Na escola visitada, sua estrutura física deixa a desejar. Ela
está longe de ser a escola dos “sonhos” de qualquer professor/a, aluno, pai, mãe
e comunidade. Chamou-nos atenção à falta de biblioteca e o local onde são
armazenados os livros, totalmente inadequado. Professores e alunos dividem o
mesmo banheiro, a secretaria e a cozinha dividem o mesmo espaço.
É preciso esclarecer que não é nosso desejo generalizar em
relação às condições das escolas públicas. Há diferenças em todos os ângulos
educacionais. Existem escolas que possuem todas as condições necessárias, a sua
equipe para o desenvolvimento do trabalho educacional, como também em questões
concernentes ao ambiente e aos recursos básicos disponíveis para alunos e
professores e a estes a disposição de todo um aparato que tornam seu trabalho
como o dito por Odelius e por Batista (1999) “mais confortável, menos
desgastante, mais prazeroso e por isso mesmo mais produtivo, além de mais
saudável para o trabalhador” (1999, p. 161). Contudo, não foi essa realidade que
encontramos na escola pesquisada.
Muito se fala em educação de qualidade. A sociedade a exige e
aos professores cabe a responsabilidade de efetuá-la. Mas, o que envolve uma
educação de qualidade? Segundo Moran (2000) três são as variáveis, duas das
quais estão diretamente relacionadas com o educador:
“Uma organização inovadora, aberta, dinâmica, com
um projeto pedagógico coerente, aberto, participativo; com infra-estrutura
adequada, atualizada confortável; com tecnologias acessíveis, rápidas e
renovadas. Uma organização que congregue docentes bem preparados intelectual,
emocional, comunicacional e eticamente; bem remunerados, motivados e com boas
condições profissionais, e onde haja circunstâncias favoráveis a uma relação
efetiva com os alunos que facilite conhecê-los, acompanhá-los, orientá-los.” [2]
(MORAN, 2000, p. 14).
E como podem os educadores concretizar tal educação se a
infra-estrutura é inadequada. As salas de aula estão lotadas, expressão de um
ensino de massa, com alunos espremidos em carteiras que não estão de acordo com
seu tamanho, peso e idade, fazendo com que estes não se sintam confortáveis,
interferindo diretamente no seu comportamento, na sua atenção ou falta dela.
Exigindo do docente uma habilidade a mais para saber contornar a situação de
forma que não prejudique a aprendizagem dos educandos.
Outra questão diz respeito ao material didático que o professor
tem tido acesso, isso quando os tem. Não é raro encontrarmos livros que estão
fora da realidade tanto dos alunos quanto dos professores causando um choque em
ambos. Os primeiros por terem em mãos atividades que não condizem com suas
experiências, levando-os então a um estado de estranhamento e os segundos que
diante de tais situações não sabem como agir, se fingem que não estão percebendo
tais coisas ou se vão à “luta” e partem para a “transgressão”.
Para Arroyo (2000), a reinvenção do ofício de mestre que ao
longo de todo esse período de transformações sociais e educacionais tem sofrido
para se auto-definir, para construir sua própria identidade. Esse tipo de
material didático reflete a falta de interesse do governo, instituição
responsável pela confecção dos mesmos, em incitar a reflexão e a criatividade
dos alunos e que vem de geração em geração contaminando a educação e promovendo
a apatia tanto de professores como da sociedade em geral para com o ensino de
qualidade.
Além dessas questões existem outras que devem ser pensadas. A
valorização docente, sua motivação e remuneração. Como o profissional da
educação pode ter motivação para o ensino, se não há uma valorização de sua
profissão, se além das infra-estruturas inadequadas, ainda não recebem o devido
valor como agente de transformação social. Quando são mal remunerados e para
estabilizar a sua situação financeira são “obrigados” a trabalhar em tempo
integral, não raro, em várias instituições, não possuindo assim tempo para a sua
formação, tempo para dedicar-se aos alunos como indivíduos com especificidade,
para o lazer, o descanso.
As condições de trabalho desfavoráveis e as competências, cada
vez maiores, exigidas do educador, tem lhe custado à saúde. Sobrecarregado,
acaba adquirindo doenças como a síndrome de Burnout, que conforme Silva (2007) é
a perda de energia, a desistência, que envolve entre outros fatores o
esgotamento emocional devido às próprias condições de trabalho. Ela conclui que
as reformas neoliberais, a reestruturação produtiva têm contribuído para a
ampliação da síndrome, em conseqüência da crescente precarização do trabalho
docente.
Diante dos fatores que traduzem a real condição dos
trabalhadores docentes, faz-se necessário que estes se tornem conscientes da
necessidade de luta para mudar essa situação. A Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação - CNTE é o meio oficial de luta dos profissionais da
educação. Contudo, ela não se fechou apenas às questões da categoria destes.
Apóia e discuti também outros assuntos que por alguma vertente, estão
relacionados com a educação, principalmente, a popular, apoiando suas
reivindicações. Ela busca melhorias para as condições de trabalho dos docentes,
reivindicando ações governamentais que venham a suprir essas e outras
necessidades.
Entre suas finalidades estão a de agregação dos educadores de
todas as áreas, busca por pela solução dos problemas destes, tendo como alvo a
dignidade e valorização profissional, defender a escola pública, gratuita e
laica, bem como, que na minha concepção possui grande importância, a luta por
condições dignas de trabalho e melhorias das condições financeiras, que também
influenciam no desenvolvimento do trabalho docente.
É possível perceber que os educadores não estão passíveis ante
todas as transformações sociais. Não são e não estão neutros, alheios aos mandos
e desmandos do capital, tornando-se assim incessíveis às necessidades de
crianças e jovens que vão às escolas em busca de uma vida melhor. Mas,
infelizmente, muitas vezes seus esforços se esbarram num sistema que visa o
lucro, que deseja apenas trabalhadores “capacitados”, mas pouco reflexivos. E
com isso, acaba por desestimular muitos a permanecer nesta batalha, impondo-lhes
obstáculos dos mais variados, chegando até, em alguns casos a “sufocá-los até a
morte” tornando-os apenas transmissores de seus valores e desejos,
desesperançosos de melhorias ou conformados com suas teorias.
Por outro lado, também existem muitos que não se deixam abater
e estão a todo custo, envolvidos em estudos, pesquisas e qualificação, ou mesmo
suportando os maus tratos de uma desvalorização que pesa-lhes na identidade e no
bolso, ainda procuram tornar essa utopia de educação transformadora, reflexiva e
de qualidade em realidade, buscam, desejam e lutam por uma escola melhor, por
uma sociedade transformada e transformadora, por verem seus esforços
recompensados nas condições de trabalho, de valorização e também na forma de uma
melhor remuneração.
Referências
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VIEIRA, Emília Peixoto. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional – 9.394/96 e a organização da educação brasileira.
[mimeo.]
[1] Aluna de Pedagogia da UESC. Voluntária no projeto de
pesquisa intitulado “AS CONDIÇÕES DO TRABALHO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR NO
CONTEXTO DAS REFORMAS EDUCACIONAIS: IMPACTOS NA REALIDADE BAHIANA” orientada
pela professora Msc. Emilia Peixoto Vieira do DCIE. E-mail:
gabyuesc2006@gmail.com
[2] Grifo nosso.
[2] Grifo nosso.
Esse texto discute as políticas públicas educacionais implementadas e o reflexo nas condições de trabalho docente das escolas públicas da Educação Básica, onde foi possível visualizar a realidade que cerca o trabalho docente, onde os educadores tem que possuir condições mínimas de atuar com qualidade na formação de indivíduos críticos e pensantes na sociedade ao qual participam.
Priscilla dos Santos Silva Ribeiro - Matrícula 10212080306
relação horizontal, uma relação entre iguais. Dessa forma, não se deve negar o outro,
senão estará negando a si próprio. A liberdade de expressão deve ser
privilegiada na Gestão Escolar Democrática.
Os gestores devem proporcionar a comunidade escolar o acesso e
a participação nas decisões, visando o bem coletivo. É importante que as
pessoas participem da discussão, em igualdade de condições, sem ter
receio de expor posições contrárias.
É importante que
as pessoas
participem da
discussão, em
igualdade de
condições, sem ter
receio de expor
posições
contrárias.
Desculpe cara tutora e colegas, postei o meu texto e comentário, acabou aparecendo alguns fragmentos de um outro texto, desnecessário, por favor desconsiderem.
ResponderExcluirObrigada,
Priscilla S S Ribeiro